quinta-feira, 11 de junho de 2009

Os eclipses lunares são tidos hoje como ótimos espetáculos visuais para os interessados por astronomia, mas dificilmente são vistos como algo que possa render resultados científicos importantes. Pois um grupo de pesquisadores espanhóis acaba de mudar isso, com um estudo que deve ajudar até a procurar planetas similares à Terra fora do Sistema Solar.
O grupo de Enric Pallé, do Instituto de Astrofísica das Canárias, em Tenerife, na Espanha, obteve, durante um eclipse lunar observado em 16 de agosto de 2008, o que seria a "assinatura" da atmosfera terrestre, se vista de longe, conforme o planeta passasse à frente do Sol, com relação a um observador distante. Em outras palavras, eles identificaram os traços luminosos que seriam captados por um ET, caso ele estivesse em outro sistema planetário, apontando um poderoso telescópio na nossa direção. A essa assinatura específica é dado o nome de espectro, que equivale à separação da luz vinda de um objeto em suas cores componentes.
A partir de marcas nesse padrão de cores separadas, é possível identificar vários dos compostos presentes no ponto de origem da luz. Com o espectro da Terra, por exemplo, é possível identificar a presença de substâncias como oxigênio, nitrogênio e vapor d'água na atmosfera. Segundo os cientistas, é possível até observar características da ionosfera terrestre -- camada da atmosfera marcada pela presença de moléculas polarizadas.
A obtenção do chamado espectro de transmissão da Terra foi possível durante um eclipse lunar porque nesse momento a Terra se posiciona entre o Sol e a Lua, bloqueando a maior parte da luz solar. O que sobra -- e ilumina a Lua -- é a luminosidade do Sol que atravessa a atmosfera terrestre e vai parar na superfície lunar. Analisando essa luz, portanto, é possível calcular como é o espectro da Terra, visto da Lua.
E o melhor de tudo: muitos dos planetas descobertos fora do Sistema Solar passam à frente de suas estrelas, com relação à Terra. Assim, o espectro que os astrônomos captam deles são equivalentes ao obtido agora do nosso planeta pelos cientistas. Moral da história: é possível compará-los, para identificar quão parecido um planeta fora do Sistema Solar é com a Terra.
Com a descoberta de mais e mais planetas, é possivelmente questão de tempo até que encontremos um que tem uma assinatura parecida com a que a Terra emite. Isso, muito provavelmente, será sinal de que há vida naquele mundo distante. O estudo de Pallé e seus colegas está na última edição do periódico científico "Nature".
Fonte: G1