segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Dr. 90210: Da miséria na Lapa ao glamour hollywoodiano

O sonho americano se realiza para poucos, mas se há um bom exemplo do que é saber aproveitar as oportunidades da América, ele é Roberto Miguel Rey Junior, conhecido como Robert Rey ou apenas Dr. 90210.

Nascido no Brasil, ele abandonou a infância pobre em São Paulo para conquistar uma vida de luxo e riqueza em Beverly Hills. Atualmente, além de ser um dos cirurgiões plásticos mais famosos do mundo, Rey ganhou notoriedade mundial apresentando o reality show
Dr. 90210” (código postal de Beverly Hills), às quartas-feiras, às 21h, no canal E!.

O médico sonha, ainda, em substituir Schwarzenegger no governo da Califórnia e em se aposentar como missionário médico no Brasil.

Vida em São Paulo

O meu pai é americano, veio para o Brasil em 1946 e se casou com uma gaúcha. Ele era bem ruim, não ficava em casa, não trazia dinheiro e tinha amantes. Acabamos na pobreza. A gente viva em São Paulo, na Lapa, e eu dormia numa mesa. Já naquela época, eu estava mal-encaminhado, passava o dia nas ruas e roubava. Ia à escola, mas era péssimo aluno.

Missionários

Um belo dia, batem na nossa porta os missionários cristãos americanos. Parece um milagre, eles poderiam ter batido em todas as portas e bateram na nossa. Fizeram amizade com a minha família e, um dia, falaram para o meu pai: “Roberto, não está bom para as crianças aqui no Brasil. A gente leva elas para os Estados Unidos e as cria para você”.
Meu pai ficou contentíssimo, claro. Ele se livrou de 4 crianças de uma vez.

A ida para os Estados Unidos

Meu pai mandou a gente, para os Estados Unidos, num navio de carga velho e enferrujado. É a história clássica americana. Eu chego em Nova York e, de repente, vejo a Estátua da Liberdade. É o sonho americano. Eu sabia que era a oportunidade de fazer alguma coisa na minha vida. Aos 11 anos, já entendia que meu futuro no Brasil estava ferrado. Eu ia, sem dúvida, terminar numa cadeia ou morto. Então, a ida para os Estados Unidos, foi uma dádiva de Deus.

Família, cultura e religião

Eu chego lá [em Utah], encontro essa família de classe média, com 9 filhos. Eles tiraram os filhos de seus quartos e nos colocam para dormir lá. Eu nunca tinha visto uma coisa dessas na vida. Essa família pregava que tínhamos que estudar. Eu era forçado a ir ao teatro, a visitar os museus. Havia livros em todos os cantos da casa e muita música. Isso foi importantíssimo para a minha história, porque quando eu prestei os exames para a universidade, entrei com facilidade em Harvard.

Preconceito na pele

Os Estados Unidos foram muito bons para mim, mas, infelizmente o preconceito ainda existe. Eu apanhava dos meninos americanos na saída da escola. Estar aqui foi chave para o meu sucesso, mas não é o paraíso, não. Em Harvard também foi feroz, porque o cara da sua direita é filho do rei de algum país da Europa e o da sua esquerda é filho do Secretário de Estado americano. Isso não é piada, é verdade. Você é aceito na universidade, mas na verdade não é. Nos círculos sociais você não é aceito.

Carreira de ator e política

Terminei a faculdade e decidi ir para Hollywood. Durante os meus anos de universidade, fiz umas propagandas para ajudar a pagar o curso. Minha licença de médico é de 1993, mas a de ator eu tirei em 1980. Todo mundo fala que sou um médico virando ator, mas é o oposto.

No princípio, quando eu não tinha paciente, dirigia 6 horas para atender os mexicanos que trabalham na lavoura. Foi assim que meu interesse político começou, eu vi que eles eram realmente tratados como lixo aqui nos Estados Unidos.

Daqui a alguns anos, quero concorrer ao Congresso americano e, mais tarde, ao governo do Estado da Califórnia. Se o Schwarzenegger pode ser governador, por que não um latino brasileiro?

Modernidade

Na medicina, eu me sobressaí muito cedo. Saí de Harvard e cheguei aqui com novas técnicas da cirurgia plástica, 10 anos à frente dos outros. Eu posso levantar o rosto com um buraquinho na orelha, eu posso fazer os seios pelo umbigo, sem cicatriz.

Hoje em dia, como eu recebo 50 mil telefonemas, cartas e e-mails ao mês, posso escolher o que eu gosto de fazer: nariz, lábios, seios, barriguinha, bumbum e vagina. A labioplastia, cirurgia dos lábios da vagina, poucos médicos no mundo sabem fazer. Eu faço bumbum com implantes lindos, faço implante de água nos lábios que você pode aumentar ou diminuir. Faço só cirurgia sensual, que deixa o pessoal contente. Não quero ficar 10 horas numa sala de cirurgia, ter que fazer transfusão de sangue, expor a paciente a situações de risco.

35 consultas ao dia

Antigamente, levava 1 ano de espera para a consulta e mais 1 ano para a cirurgia. Melhorei muito, hoje em dia são necessários 3 meses para a consulta e geralmente fazemos a cirurgia 2 ou 3 meses depois. Eu atendo 35 pacientes por dia. Opero das 7h às 23h, todos os dias da semana, menos terça-feira e domingo. Estou operando 32 mulheres por semana. Faço uma seleção prévia das pacientes. Não é arrogância, mas é impossível atender todo mundo.

Ganhando a televisão

Em 2002, fiquei muito ofendido com o seriado “Nip/tuck”, porque mostra o cirurgião plástico como um playboy, uma pessoa que tem problemas com drogas e filhos ilegítimos. Então, escrevi com o meu agente um roteiro e mandei para o E!, onde já havia feito um especial sobre cirurgia plástica. Com uns poucos milhões, fizemos a 1ª temporada do “Dr. 90210”. Fiquei amedrontado, não sabia como ia ser recebido pelo público, mas foi um sucesso enorme.
Hoje, estamos em 173 países. Nos EUA, 44 milhões de americanos assistem ao programa.

Missão no Brasil

Todos os anos eu faço missões cirúrgicas. Acabei de voltar do Brasil, onde trabalhei com uma ONG em Ilhabela. Neste ano, vou para a China, Israel e quero ir para a África reconstruir as moças que tiveram suas vaginas mutiladas. No ano retrasado, fiz operações de lábios leporinos no México. Quero voltar para o Brasil, não como missionário evangélico, mas como missionário médico. Aos 60, 65 anos, eu volto permanentemente, com meus filhos já encaminhados e criados, eu volto para ficar.